O que é mais fácil?

“O que é mais fácil? Dizer: ‘Estão perdoados os teus pecados? Ou dizer: ‘Levanta-te e anda’?” Jesus – (Mateus 9:5)

Diante do paralítico prestes a ser curado, Jesus é acusado de blasfêmia, por parte de alguns escribas que estavam presentes à cena. Sua resposta, apresentada na citação acima (na verdade, um questionamento), merece nossa reflexão.

É preciso entender o contexto. Os judeus não possuiam uma explicação lógica e plausível para as enfermidades que acometiam praticamente todas as pessoas. A crença corrente é que algum pecado – uma infração à Lei Divina – havia sido cometido pelo indivíduo e então ele estava sendo punido por Deus. Se a pessoa já nascesse enferma, certamente isso se devia ao pecado de algum dos seus ancestrais. A ideia de um Deus punitivo sobreviveu entre os cristãos e existe até hoje no imaginário de alguns espíritas.

Bem, se a punição era divina, a cura (ou seja, a interrupção da punição) também deveria ser. Aqui entendemos o porquê de os Evangelhos insistirem tanto nas descrições de variadas curas operadas por Jesus. Para curar, a pessoa deveria ter recebido essa autoridade de Deus ou, para alguns, ser o próprio Deus. Curar era visto, portanto, como um ato transcendente ou mesmo divino.

No entanto, entendemos que pelo mecanismo – natural – de causa e efeito, as enfermidades são resultados – naturais – de erros cometidos e assumidos perante a própria consciência. Assim, a consequência lógica é que as curas também são fenômenos naturais, como propõe o Espiritismo [1].

Ser “natural” não implica que seja “simples”. O mecanismo da cura envolve a manipulação consciente e informada dos fluidos, o desejo de saúde e a receptividade por parte do paciente, o enquadramento da cura nos mapas do processo reencarnatório, entre vários outros fatores. Não é algo “fácil”. Por isso a implicação mais profunda da pergunta feita por Jesus: “O que é mais fácil?”

Em “estão perdoados os seus pecados”, Jesus usaria de sua autoridade moral e da crença do paciente, para informar à consciência mais profunda de que ela está livre da prisão a que se impôs. O perdão concedido exteriormente só funciona se disparar o autoperdão. Em “levanta-te e anda”, ele usaria da mesma autoridade para mostrar que a cura se dá, sobretudo, de dentro para fora, através da atitude e da ação positiva do paciente. O chamado é para o movimento, mais consciencial do que propriamente físico.

No decorrer da passagem, vemos que Jesus acaba se utilizando das duas opções. Explicita sua autoridade moral (não “concedida” por Deus, mas conquistada ao longo de sua evolução) e ordena ao paralítico que se levante. Para ele as duas opções são igualmente “fáceis”. Para nós, que somos os pacientes, as duas ainda parecem igualmente difíceis.

[1] A Gênese, Allan Kardec. Cap. 15.

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